Crónicas da Beira (1)

O ofício de cronista tem que se lhe diga. Além de nos obrigar a estar atento ao que se passa à nossa volta, ainda nos obriga a ter espírito inventivo, para lutar contra os espaços em branco e puder cantar vitória sobre o papel.
Quando a Alice me lançou este convite inesperado - com a cumplicidade dos primos -, para me estrear neste mundo novo que é a “internet” (este nome ainda me deixa desconfiado, faz-me lembrar a gente de outros mundos, não sei porquê...) fiquei dividido, entre o receio e satisfação.
Duvido que tenha alguma coisa a acrescentar. Até porque não tenho idade e feitio para escrever imbecilidades, como alguns escribas iluminados que seguem em fila, atrás de Pulido Valente, Marcelo Rebelo de Sousa e Pacheco Pereira.
Aqui na Beira ainda vinga a história do jovem pastor de ovelhas que adorava pregar partidas e dar falsos alarmes da chegada de mais um lobo e que um dia pagou pelos disparates que andou fazendo. Esta história ajudou-me desde pequeno a fazer um esforço para não mentir. No inicio era medo, depois tornou-se hábito...
Como disse de inicio, o ofício de cronista tem que se lhe diga. Mesmo assim não vou estar muito atento ao mundo, porque estou cansado de telejornais com trama de telenovela. Este caso da menina inglesa desaparecida é o último exemplo.
Será que não se passa mais nada de relevante no país?
Aqui na Beira não se passa grande coisa, mas nós estamos quase fora do mapa. Vamos todos para velhos e sentimos as nossas aldeias cada vez mais vazias. Só se vêem crianças a correrem de uma lado para o outro durante a altura da festa. Meia dúzia de dias por ano é muito pouco.
Nunca percebi esta necessidade de encurtar país, de só haver preocupações para o Litoral. Também não é para perceber, mas não pensem que sou a favor da regionalização. Basta um Alberto João Jardim para brincar com o nosso dinheirinho e ainda nos mimosear com vários nomes, dos quais “cubanos” parece ser o mais simpático!

João Cunha